“Fala-me, Musa, do homem astuto que tanto vagueou”
(Odisseia, Canto I, verso 1)
“Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida”
(Ilíada, Canto I, verso 1)
*Ambas as traduções são de Frederico Lourenço
Os poemas homéricos se iniciam com o que chamamos de
proêmio. Essa se tornou uma convenção do gênero épico: em geral, todos os
poemas épicos possuíam um proêmio, versos introdutórios com função específica.
O post de hoje não tratará dos proêmios inteiros, mas se
ocupará apenas do primeiro verso de cada um dos poemas homéricos, a Ilíada e a
Odisseia. Pode-se notar que eles são estruturalmente bem parecidos, não? Por
que são assim?
Os poemas épicos se iniciam pelo que se convencionou chamar “invocação
às Musas”. As Musas são deusas associadas à memória, ao canto e à dança, filhas
de Memória com Zeus, o deus soberano. Para os gregos antigos, elas eram as
responsáveis pela produção poética: o aedo (poeta) era apenas o porta-voz das
Musas; o canto era considerado algo de origem divina. A invocação, portanto, para os gregos antigos, era mais do que uma simples convenção.
Numa sociedade em que, na melhor das hipóteses, a escrita
apenas começava a ser reintroduzida (ou seja, em uma sociedade caracterizada
pela oralidade), não é de se estranhar que as Musas, filhas da Memória, tivessem
essa importância: para os gregos, eram elas que possibilitavam que os aedos
fossem capazes de cantar tantas coisas de tempos passados; elas, como
divindades, são oniscientes, tudo sabem, e como filhas de Memória, tudo
lembram.
O primeiro verso dos poemas, portanto, invoca o auxílio das
Musas, pois sem elas o canto não seria possível: a Musa canta para o poeta, e o
poeta para o público. Junto com a invocação, aparecem mencionados, de imediato,
os temas dos poemas: no caso da Ilíada, a ira de Aquiles; no da Odisseia, o
homem astuto (Odisseu).
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns, pela iniciativa do blog. Sou leitor da Ilíada e Odisseia e penso um dia (se houver tempo) fazer Letras Clássicas. Estarei acompanhando suas postagens, não deixe de publicar.
ResponderExcluir(Antonio T. Lira)
Grata pela leitura e pelo incentivo, Antonio. Continuarei publicando! :)
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