segunda-feira, 13 de abril de 2015

Por que os poemas começam da maneira que começam?


“Fala-me, Musa, do homem astuto que tanto vagueou”
(Odisseia, Canto I, verso 1)
“Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, o Pelida”
(Ilíada, Canto I, verso 1)
*Ambas as traduções são de Frederico Lourenço

Os poemas homéricos se iniciam com o que chamamos de proêmio. Essa se tornou uma convenção do gênero épico: em geral, todos os poemas épicos possuíam um proêmio, versos introdutórios com função específica.

O post de hoje não tratará dos proêmios inteiros, mas se ocupará apenas do primeiro verso de cada um dos poemas homéricos, a Ilíada e a Odisseia. Pode-se notar que eles são estruturalmente bem parecidos, não? Por que são assim?

Os poemas épicos se iniciam pelo que se convencionou chamar “invocação às Musas”. As Musas são deusas associadas à memória, ao canto e à dança, filhas de Memória com Zeus, o deus soberano. Para os gregos antigos, elas eram as responsáveis pela produção poética: o aedo (poeta) era apenas o porta-voz das Musas; o canto era considerado algo de origem divina. A invocação, portanto, para os gregos antigos, era mais do que uma simples convenção.

Numa sociedade em que, na melhor das hipóteses, a escrita apenas começava a ser reintroduzida (ou seja, em uma sociedade caracterizada pela oralidade), não é de se estranhar que as Musas, filhas da Memória, tivessem essa importância: para os gregos, eram elas que possibilitavam que os aedos fossem capazes de cantar tantas coisas de tempos passados; elas, como divindades, são oniscientes, tudo sabem, e como filhas de Memória, tudo lembram.


O primeiro verso dos poemas, portanto, invoca o auxílio das Musas, pois sem elas o canto não seria possível: a Musa canta para o poeta, e o poeta para o público. Junto com a invocação, aparecem mencionados, de imediato, os temas dos poemas: no caso da Ilíada, a ira de Aquiles; no da Odisseia, o homem astuto (Odisseu).

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parabéns, pela iniciativa do blog. Sou leitor da Ilíada e Odisseia e penso um dia (se houver tempo) fazer Letras Clássicas. Estarei acompanhando suas postagens, não deixe de publicar.

    (Antonio T. Lira)

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  3. Grata pela leitura e pelo incentivo, Antonio. Continuarei publicando! :)

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